sexta-feira, 4 de junho de 2010

Dindi


Subiu as escadas sem sentir as passadas. Era como uma dança flutuante. Ao entrar, pendurando as chaves, o chacoalhar das mesmas mais parecia música. Fazia tanto calor aquela noite e, mesmo assim, não saiu arrancando as pesadas calças jeans e o blazer, como de praxe. Pôs-se a ouvir um tal Tom Jobim e da varanda, a admirar as nuvens que passavam ligeiras.

Abriu a última garrafa de água da geladeira e, em vez de beber, enxergava aqueles olhos dentro do copo. Pareciam o reflexo dos seus, mas não era. Acendeu um cigarro e, depois do primeiro trago, a fumaça que passeava à meia-luz traziam à tona aquela voz, leve e macia.

Não sabia seu nome, nem se deu ao trabalho de perguntar. Não por falta de interesse, muito pelo contrário. Ao vê-la pela primeira e única vez, encontrava-se perdidamente hipnotizado por aquela moça, que conseguia ser tímida e engraçada, tamanha sua naturalidade. Ele, que gostava de falar, tomar partido nas conversas, foi o melhor ouvinte que jamais se julgou capaz de ser. O tempo que passaram dentro da barca que fazia o trajeto Rio - Niterói foi capaz de construir um encanto mútuo. Uma prova disso foi que nem perceberam quando a embarcação parou no meio da Baía de Guanabara, por problemas técnicos.

E chegou a hora da despedida. E nem sequer trocaram telefones. Ele só pensava em ficar, esperava que ela o levasse para onde fosse. Para ele, ela era a coisa mais linda que existe. Se é que existe.

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